segunda-feira, 15 de junho de 2009

AGORA THEATER - UN STUDIO

ANALISE PROJETUAL DO TEATRO AGORA
UN STUDIO

INTERIOR X EXTERIOR
Sendo parte integrante de um másterplan elaborado por Adrian Geuze e desenvolvido pelo escritório UN STUDIO, que por sua vez teve em suma, como iniciativa, a reconstrução de algumas cidades Holandesas do pós-guerra. Sendo assim este edifício fora pensado no intuito de abrigar um grande teatro, que se comportasse com um marco na cidade e na arquitetura contemporânea. O que, sem duvidas foi alcançado pelos seus idealizadores e patrocinadores, alem disso conseguiram juntamente a isso promover uma fantástica experiência urbana do edifício e seu relacionamento com os que vivenciam a área e seu entorno.

Portanto temos diante de nos um edifício muito peculiar e rico não só nas relações de expressão do exterior com o interior, mas para a arquitetura como um todo. Originando-se da necessidade de se adequar dois espaços teatrais separados, acusticamente ideais e componentes de um mesmo volume, o Teatro Agora nos possibilita entender as relações espaciais em tudo aquilo que conhecemos, onde os espaços tornam-se nada mais que organismos integrantes de uma simbiose perfeita de espaços vivendo dentro de outros espaços. Ou seja, o edifício abriga no seu interior, múltiplos espaços que se conformam e dialogam de forma a se complementarem plenamente, como por exemplo, a existência de dois auditórios, um café, um restaurante, um foyer para visitantes outro para os artistas e outros diversos espaços servidos e de serviço como camarins, depósitos, quartos de limpeza e etc.



E com isso notamos no seu interior a essência em verdadeiro caráter projetual do edifício, como um verdadeiro centro criativo e que existe um ou na verdade vários “universos” sendo vivenciados e experimentos dentro do edifício. Tornado assim primordial o entendimento da necessidade do partido, ao expressar com tamanho rigor, a existência de forma tão real e clara, do que é interno e do que é externo. Sem esta noção básica tornaria-se muito difícil ou ainda ousaria em dizer, quase impossível a compreensão do edifício e seu partido assim como as suas idéias e soluções peculiares.


Apartir deste momento dar-se um grande passo no entendimento da edificação e suas relações interespaciais, agora quando observamos a primeira vista o exterior do edifício percebemos uma destruição total das fachadas, mais ou menos como se estivessem faltando pedaços do edifício. Mas como havíamos dito anteriormente este também é um aspecto proveniente, ao que tudo indica, do histórico e da iniciativa do projeto de ser parte integrante de um plano de “reconstrução de cidades” e este foi exatamente o cenário que muitos devem ter se visto e percebido, o da destruição, da desconstrução e do arrasamento. E é nesta atmosfera de sentimento dramático que se encontra em meio aos destroços nas paisagens de cidades bombardeadas, que se faz expresso artisticamente ao longo de todas as fachadas do Teatro, a “agonia” de seus planos salientes lapidados em ângulos afiados por todas as fachadas como se estivesse aprisionando sobre seus escombros algo vivo prestes a sair.

Sendo assim caracterizamos as fachadas do edifício, como um invólucro multifacetado que abriga um acumulo considerável de espaços e suas complexidades se relacionando de forma interdependente. Mostrando-nos o que provavelmente foi uma decisão projetual de se resolver tecnicamente a edificação internamente e depois partindo para o externo, se obtendo como produto final esta “pele” que envolve totalmente o edifício denunciando claramente que a sua forma foi produto final de uma resolução baseada nas suas necessidades e composições espaciais internas.

Ainda assim esta “pele” que envolve e não somente segrega o interior do exterior do edifício, tem um papel importante para o partido arquitetônico, alem de limitar a estrutura ao exterior ela dita exatamente o perímetro e área da superfície da edificação. Ou seja, ela remonta o conceito da complexidade contida, mas que não se limita a uma forma pré-definida, mas sim demonstrando e se amoldando exatamente ao que é o edifício. Através de seus espaços organizados em camadas que possibilitam ao observador vivenciar contrastes tão presentes, marcantes e quase exagerados por todo o projeto em sua forma, posição, padrão e tamanho.

E neste momento em que percebemos e entendemos as fachadas como um invólucro que somente fecha a edificação, não è mais possível notar a grande relação existente entre base e topo das edificações. Tudo isso porque agora frente, fundo, base e topo são conseqüências da orientação do observador e não de uma imposição por elementos arquitetônicos que denunciem esta percepção, è claro que a noção de frente e fundo ainda existe e se torna ainda mais importante sabendo agora, que as laterais são extensões das fachadas de fundo e das frontais e o topo não è mais percebido, mas avistado como uma linha de cumeada somente o contornando a massa edificada.

A frente do edifício è denunciada pela necessidade projetual de se convidar o observador a adentrar a edificação e despertar no mesmo a curiosidade. Tudo isso através da dissolução mais uniforme de sua base pela inserção de painéis de vidro que deixam transparecer o seu interior, como forma de protagonizar a luz como elemento de percepção e entendimento do espaço, promovendo durante o dia a sensação de abertura e transparência convidativa que denuncia e expõem o interior do prédio. E durante a noite a luz se comportando como agente modificador na compreensão do espaço, convidando e desmaterializando as barreiras físicas deste invólucro tão fechado e aparentemente lacrado.
Já a fachada dos fundos remete de forma fria e pesada a massa edificada, totalmente revestida e protegida por seu invólucro intocável, essa primeira percepção seria muito simplista porem certa, dada a necessidade expressa por esta fachada, que se deu na interferência do partido interno diretamente no partido externo independente do resultado.

Alem disso outra ferramenta ou conseqüência, capaz de nos fazer perceber as relações de interior e exterior existente neste prédio seria a utilização de sucessão de planos, que podemos diagnosticar como uma ferramenta capaz de aludir à transição de interior e exterior. Promovendo em determinado momento uma sobreposição capaz de revelar o interno e o externo de forma intrínseca, como podemos perceber no foyer dos artistas. Estando acima da entrada e permitindo aos mesmos prestar atenção ao publico, que se aproxima do teatro para os espetáculos; através de uma grande janela, em um plano inclinado com seu fechamento em vidro, podendo assim abstrair e dialogar com o exterior e forma clara, porem muito reservada sem se fazer totalmente amostra com o exterior.

Concluímos, portanto que estamos diante de uma obra com um conceito arquitetônico muito peculiar e que nos cabe muita cautela ao analisarmos, o que ao longo deste texto se tentou de forma clara e objetiva, se construir. E sem desmerecer em nenhum aspecto a grandeza e riqueza das informações ainda existentes à serem analisadas, porem nos atentando aos aspectos mais pertinentes para a nossa síntese do entendimento das relações de interior e exterior. Sendo assim è possível concluir que o projeto se mostra rigidamente fechado a primeiro momento e internamente reflete a simbiose na existência de espaços internos múltiplos conformadores de um todo que dialogam e se complementam plenamente.

Permitindo de forma racional e bem conservadora que o espectador, colocado de forma interna se veja preso a uma espécie de fuga da realidade exterior imerso em um “mar” de sensações e contrastes marcantes, não se sinta atraído em nada, ao ponto de negar totalmente o dialogo com o exterior se reservando somente em condições de algumas janelas nos foyers e no alto das salas de conserto promovendo uma iluminação mais senica aos ambientes. Sendo assim um partido de fachadismo rígido, que promove a expectativa caótica de suas linhas e ângulos desfigurativos, que menosprezam o contato com o exterior de forma a contemplá-lo de pontos estratégicos, internamente ou durante a noite onde a luz emana por entre os painéis de vidro promovendo a falsa idéia de transparência e fluidez convidativa ao interior.

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REFERENCIAS:

O texto “complexidade e contradição em arquitetura” por Roberto Venturi
Foi balizador para esta analise das relações de interior e exterior .

Alguns dos sites principais, pesquisados como referencia:
http://www.arcspace.com/architects/un/lelystad2/lelystad2.html
http://www.e-architect.co.uk/holland/theatre_agora_lelystad.htm
http://www.unstudio.com/projects/country/nl/1/142

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